O PRIMEIRO HOMEM

Quando eu o conheci, eu desejava, acima de tudo, agradá-lo. Ser aprovada por ele era o que mais importava para mim, porque eu o admirava. Determinação, disciplina e dedicação o guiavam em tudo o que fazia. A sua fé inabalável no esforço como estratégia de vitória e o seu alto senso de responsabilidade tinham sido forjados em uma infância difícil, marcada por muitos deveres e poucos prazeres. Ele me contou sem amargura, com orgulho até, as experiências que viveu antes de me conhecer, e me falou de exemplos vivos dessa filosofia em sua própria história. Ele não entregava nada ao encargo da sorte. A honestidade era sua marca e eu percebi logo que ele inspirava confiança nas pessoas ao seu redor.

Sempre foi um cara sério, e ao mesmo tempo, gaiato, no melhor sentido da palavra. Gostava de contar piadas e fazer “pilhérias”, contrabalançando o seu lado passional, que aparecia quando ele ficava “brabo”. Nessas horas, sua altura de um metro e sessenta parecia duplicar, e ao ouvi-lo chamar o meu nome, dardejado junto com um olhar de censura, eu tremia nas bases.

Mas a verdade é que eu me sentia segura e amada em sua companhia. E me sentia orgulhosa porque entendia que formávamos uma boa dupla. Comecei a me ver pelos olhos dele. Ele sempre me dizia que acreditava que eu era capaz. Por confiar nele, eu passei a acreditar também. Ele me ensinou que em tudo a que eu me dedicasse, eu poderia vencer. A despeito disso, nós nos desentendemos várias vezes durante nosso convívio, em parte por causa do meu gênio, em parte porque a mesma autonomia que ele me ajudou a desenvolver, resistia ao seu jeito controlador.

Não estamos mais juntos, eu não o vejo há quase três décadas, mas colho até hoje os benefícios do que ele me ensinou. Até hoje, tento propagar as lições éticas que aprendi com esse homem. Ele foi o primeiro na minha vida e eu nunca vou esquecê-lo. Eu o aplaudo constantemente, do fundo do meu coração.

“Meu pai, eu sou grata por tudo”.

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