O PERDÃO A PRIORI


Rossana Araripe Lindote

“O homem é um animal social”, dizia o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), divulgando a sua teoria de que o ser humano é um indivíduo que precisa estar em sociedade para viver plenamente. E estamos imersos em uma teia de seres humanos todo o tempo, nos relacionando de várias maneiras, em variados graus de proximidade. Pessoas são diferentes entre si, pensam e agem de modo diverso e para vivermos em harmonia, precisam aprender regras de convivência.

Relacionar-se inclui lidar com o Outro, com todas as características que ele possui, seus talentos e suas limitações. De seu lado, esse Outro também precisa lidar com as nossas próprias imperfeições e com nosso jeito de ser. Por essa razão, as nossas interações sociais sempre incluirão desafios.

Quanto mais próximo é o relacionamento, mais frequentes serão as situações em que serão postas à prova nossas Habilidade Sociais, tais como a Empatia, a Assertividade e a Comunicação. Quando alguém apresenta um comportamento que nos incomoda, nos magoa ou nos enraivece, pode ocorrer um conflito, um afastamento, e rancores de parte a parte, envenenando a alegria da relação e roubando a nossa paz.

Se nossos sentimentos pelo Outro são significativos, em geral, persiste o nosso desejo de manter o relacionamento, a despeito do desentendimento. Então, após um período de distanciamento, durante o qual carregamos, amargurados, o peso do aborrecimento, acabamos por nos reaproximar, com ou sem diálogo prévio, e nos esforçamos para desculpar o Outro, esquecer o que aconteceu, ou ao menos “digerir” a contrariedade, para que a relação possa continuar.

Há um caminho mais curto para recuperar o equilíbrio no relacionamento e o nosso bem-estar: esperar arrefecerem as emoções mais fortes e propor ao outro uma conversa assertiva, onde poderemos nos posicionar, respeitando simultaneamente a nós mesmos e ao Outro.
(leia o texto sobre Assertividade aqui neste site).

De forma realista, podemos considerar que, tratando-se de uma relação entre humanos, e tendo o conhecimento prévio de que todos os humanos são seres imperfeitos, em algum momento, uma das partes cometerá erros, e esses erros poderão atingir a outra parte. Com essa compreensão essencial, não seremos surpreendidos quando o Outro de alguma forma nos irritar, magoar ou aborrecer. Será mais fácil conviver, se, partindo dessa premissa, pudermos nos valer do perdão a priori.

Não se trata de resignar-se a um relacionamento ruim, de se deixar subjugar ou de transigir em valores fundamentais. Significa antecipadamente aceitar o fato de que o Outro é falível como nós, e lutar pela relação, esclarecendo o incidente, sem o peso do ressentimento. Perdoar é nos livrar desse peso, é não trazer para a nossa alma o veneno de uma mágoa permanente. É ficar mais leve para seguir em frente, com ou sem o Outro.

NOTA: “A priori” é uma locução adverbial da língua latina, uma expressão usada para fazer referencia a um princípio anterior à experiência. Indica aquilo que vem antes da experiência, ou seja, “o que vem antes de “.

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Rossana Araripe Lindote

E-mail: rossanalindote@gmail.com

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