E SE...?


Rossana Araripe Lindote

Vivemos todos mergulhados em um mar de incertezas. Temos um controle relativo, limitado, sobre a nossa realidade. Ao mesmo tempo, fazemos escolhas a partir de nossas circunstâncias, e isso nos confere algum poder. Mas nós gostaríamos de ter mais controle porque a incerteza nos causa angústia, expõe a nossa vulnerabilidade. Aceitar que não sabemos tudo, que não podemos tudo, é um desafio diário.

E aí, quando não estamos nos sentindo seguros, começamos a nos perguntar: “e se...?” Geralmente o resto da frase prevê algo difícil para nós, um acontecimento que tememos, algo que vá nos causar sofrimento, cuja reversão não estará ao nosso alcance. E então sofremos. Sofremos antes da hora. Sofremos por algo que talvez nem aconteça. E esse sofrimento impotente é um tremendo desperdício de energia, pelo simples fato de que é impossível lidar com algo que não está acontecendo. A energia escoa pelo ralo e nós nos fragilizamos. O que é uma pena, porque precisamos dessa energia para lidar com as demandas de hoje, com os desafios do momento.

Por que “catastrofizamos?” Por que pensamos sempre na pior hipótese quando vamos enfrentar algo que não podemos dominar? Planejar e controlar são coisas diferentes. Planejar inspira uma ação, pensar que podemos controlar tudo é uma ilusão. Se queremos ter uma árvore frondosa em nosso quintal, precisamos plantar uma semente hoje, e a cada dia, regá-la e cercá-la de cuidados para que ela cresça. Mas isso não garante que teremos nossa árvore em alguma data no futuro. Dentro da previsibilidade de que dispomos e que nos conforta, há também um grau de incerteza, que nos atemoriza.

Na ansiedade de imaginar o que vai acontecer, costumamos contar com o esperado agradável, quando aguardamos algo que nos fará feliz, contamos também com o esperado temido, quando sabemos que haverá algo difícil ou doloroso à frente, e ficamos em alerta a respeito do inesperado temido, algo que pode acontecer – ou não – e que poderá nos prejudicar.

Nesse hábito de viver no futuro, esquecemos de degustar o nosso Agora. Mas que tal contar com o inesperado agradável? Ele se manifesta o tempo todo, em pequenos e grandes acontecimentos, que nos facilitam a existência e que nos enchem de gratidão. Estamos tão ocupados tentando nos proteger contra possíveis – e muitas vezes, improváveis – imprevistos, que muitas vezes nem notamos as bênçãos diárias que nos acontecem e que continuarão acontecendo, sem que as tenhamos planejado ou sequer imaginado.

Pensemos sobre isso. Como pretendemos usar a nossa preciosa energia de hoje?

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Rossana Araripe Lindote

E-mail: rossanalindote@gmail.com

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