Rossana Araripe Lindote
Da minha janela eu os vejo: uma chupeta branca e um laço vermelho. Alguém os deixou cair na pequena laje que fica logo abaixo do meu andar. Ou talvez tenham sido jogados por alguma criança travessa de um dos andares superiores do meu prédio.
Enquanto especulo de qual apartamento podem ter caído, pensando em devolvê-los, eles me trazem de volta o passado. Eles me transportam a um tempo em que havia objetos como esses, soltos pela casa, cujos donos eram os meus próprios bebês.
Os meus bebês lindos e rechonchudos, eu poderia dizer, mas seria verdade apenas em parte. Lindos sim, todos são lindos se vistos pelo olhar de suas mães. Mas nenhum dos três era rechonchudo, o que me preocupava, já que eu sempre ouvia dizer por toda a parte que um bebê tinha que ter muitas dobrinhas.
Ainda posso sentir a maciez da pele de meus pimpolhos, o cheirinho de lavanda das suas roupinhas e dos seus pescocinhos delicados e o toque acetinado dos cabelinhos nascendo, apenas uma penugem. Entremeando os momentos difíceis das madrugadas em claro, do choro e de dodóis diversos, havia o colo, o aconchego, o embalar nos meus braços, cantando até que dormissem. Eu era uma jovem mãe, movida a emoções.
Meu bebês cresceram. A “ânsia da vida por si mesma” como escreveu Gibran, os transformou em adultos e eles se reproduziram em outra geração de pimpolhos que também estão crescendo.
Hoje a nostalgia me pegou de jeito. Quisera eu revisitar essa época, ao menos por alguns minutos. Eu guardaria por um momento, em um cantinho seguro e amoroso, todos os que vieram depois, genros, nora e netos, e apenas por um tantinho de tempo, eu acalentaria novamente os meus bebês. Eu faria o que não fiz, inventaria novas formas de acalmá-los, de distraí-los, de entregar mais amor do que fui capaz naquele tempo. Eu poderia outra vez mantê-los a salvo das dores e preocupações do mundo e seria para eles o espaço mais seguro do universo. Ouviria de novo suas risadas infantis, sentiria seus bracinhos agarrando-se a mim em busca de segurança. Eu acompanharia os seus primeiros passos e riria das palavras engraçadas que diziam.
A vizinha veio buscar o laço e a chupeta, mas a sensação permanece. Vou propor a meus filhos, que deitem a cabeça no meu colo, para que eu possa acariciar-lhes os cabelos e fazer de conta que são pequeninos outra vez. Só um pouquinho.