Rossana Araripe Lindote
Pesquisadores evolucionistas ligados à Psicologia e à Psiquiatria têm estudado os transtornos de ansiedade, entre eles o TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO , conhecido como TOC. Este transtorno, analisado sob uma perspectiva biopsicossocial, pode ter causas diversas que ainda precisam ser mais bem estudadas. É uma das manifestações da ansiedade e pode se apresentar em forma de casos leves, moderados ou graves. Ele se caracteriza pela necessidade quase irresistível de praticar certos atos, chamados compulsões, com vistas a neutralizar pensamentos aflitivos, catastróficos, denominados obsessões. Esse transtorno foi bem ilustrado no filme “Melhor impossível” de 1988, protagonizado pelo ator Jack Nicholson e resultou em maior divulgação do transtorno para o grande público.
As compulsões consistem em rituais, comportamentais ou mentais, e portanto, podem ser percebidos ou não pelas outras pessoas. São recursos que a pessoa utiliza para aplacar a angústia produzida pelas obsessões, na falsa crença de que estes seriam necessários para evitar acontecimentos ruins. Esta crença é induzida pela desregulação da bioquímica cerebral, especialmente a da serotonina. A prática desses rituais faz diminuir momentaneamente a ansiedade, mas ela logo retorna, como reação aos novos pensamentos obsessivos que surgem. Assim, o ciclo se perpetua.
Entre os comportamentos compulsivos mais comuns que surgem como reação aos pensamentos obsessivos, estão: verificação ou checagem, limpeza e lavagem, ordenação e simetria, contagem, colecionamento, além de atos mentais, como: fazer orações por horas a fio, repetir mentalmente determinadas palavras ou pensar em certos símbolos ou imagens em uma determinada quantidade de vezes, além de outras formas de “ruminação” mental.
Esses pensamentos obsessivos, chamados intrusivos, costumam ser bastante perturbadores e causam sofrimento psicológico significativo, atrapalhando o cotidiano da pessoa por levá-las a gastar muito do seu tempo realizando os rituais. Além disso as pessoas com TOC sentem vergonha dos rituais que praticam e os escondem, porque percebem que eles não obedecem à lógica e podem ser considerados estranhos pelas outras pessoas. Mesmo percebendo racionalmente que o ritual não faz sentido, sentem dificuldade de resistir à prática do comportamento compulsivo.
As compulsões comportamentais podem se concretizar como ação ou evitação - fazer ou deixar de fazer algo. Em ambos os casos, o ciclo vicioso do TOC é reforçado, conforme representado na figura abaixo.
Não é demais repetir que a realização do ritual proporciona somente um alívio temporário da ansiedade, que logo recomeça, compelindo a pessoa a realizar novos rituais, agravando assim o transtorno. Se a pessoa conseguir tolerar a ansiedade do momento e se abstiver da realização dos rituais, conseguirá perceber que a ansiedade diminuiu de qualquer modo e que mesmo sem a realização do comportamento compulsivo, as suas previsões catastróficas não se com concretizaram.
A estratégia mais utilizada para o tratamento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo é a combinação da terapia medicamentosa – geralmente antidepressivos que agem promovendo a disponibilidade da serotonina no cérebro e controlando a ansiedade – e a psicoterapia, especialmente a abordagem Cognitivo-Comportamental. A medicação restabelece o equilíbrio bioquímico cerebral e o psicoterapeuta, usando a técnica de exposição e prevenção de resposta, oferece suporte psicológico ao paciente enquanto este é propositalmente exposto aos estímulos que desencadeiam a compulsão, começando pelos menos temidos e gradualmente chegando-se àqueles mais aversivos. Quando o paciente aprende a tolerar a ansiedade, habituando-se aos estímulos obsessivos, descondiciona-se da relação entre estes e a prática dos rituais.
Para que o paciente persista no tratamento, que não traz resultados imediatos e que implica em algum grau de desconforto, é necessário que tenha sido estabelecido na relação terapêutica um vínculo de confiança, para que ele se sinta apoiado durante todo o processo, até que se liberte da necessidade da prática dos comportamentos compulsivos e possa viver normalmente.