René Descartes, filósofo e matemático francês, cunhou uma expressão que se tornou famosa e que se traduz na língua portuguesa por “Penso, logo existo”, significando que a capacidade de pensar confirma a existência daquele que pensa.
Peço licença ao filósofo para utilizar seu silogismo em formato diferente, e aplicá-la à questão que constitui o principal pressuposto da Terapia Cognitivo-comportamental. De acordo com essa abordagem, o que nos mobiliza emocionalmente não é exatamente aquilo que nos acontece, mas a forma como pensamos a respeito. Assim, um evento semelhante pode afetar de modo diferente, pessoas diversas.
As crenças que desenvolvemos ao longo de nossa vida, a partir da nossa natureza, do modo como fomos criados, das nossas experiências e relacionamentos, nos conduzem a interpretar as situações de uma determinada forma, filtrando a nossa avaliação de acordo com o que acreditamos ser verdade, sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre o futuro.
O que pensamos sobre o impacto de um determinado evento em nossas vidas, gera emoções. Essas emoções guiarão o nosso comportamento, que naturalmente acarretará para nós, consequências. Conhecer esse encadeamento, portanto, nos leva a reconhecer a importância de prestarmos atenção aos pensamentos que alimentamos diante do que nos acontece. É útil que nos perguntemos:
“O que estou dizendo a mim mesma/o sobre isso?”
Se avaliamos a situação como uma grande ameaça, e ao mesmo tempo, subestimamos os recursos que possuímos para enfrentá-la e superá-la, poderemos nos entregar ao desespero, à tristeza, à sensação de impotência, e nos colocar na posição de vítima, assumindo um comportamento passivo.
Se interpretamos a situação como uma dificuldade, e a despeito disso, sentimos que podemos vencê-la com nossas próprias forças ou com ajuda de outrem, assumiremos uma postura adaptativa e eficaz, e em maior ou menor tempo, o evento terá sido transposto, tornando-se para nós, fonte de aprendizado e amadurecimento.
Tendemos a dar crédito, a priori, aos nossos pensamentos, porque eles se originam de nossa própria mente, então os sentimos como verdadeiros. Contudo, muitos dos inúmeros pensamentos automáticos que nos ocupam a mente o tempo inteiro, são disfuncionais, distorcidos em relação à realidade, influenciados pelas nossas crenças básicas, e por não serem funcionais, realistas, nos conduzem na direção contrária de nossas metas e de nosso bem-estar.
Através da metacognição, temos a capacidade de “pensar sobre os próprios pensamentos”. Antes de assumir como verdade qualquer deles e considerá-los como base para as nossas ações, precisamos testá-los à luz das evidências.
“Isso que estou pensando é mesmo verdade? Pode haver outra explicação para isso? Que emoção está dirigindo o meu raciocino? Em que estou me baseando para pensar desse modo?”
Pensamentos disfuncionais nos chegam sem convite, tal como um pássaro que pousa em nosso ombro quando estamos distraídos. Não podemos impedi-lo de chegar, mas não precisamos permitir que ele permaneça e faça aí um ninho. Podemos ficar atentos ao que dizemos para nós mesmos, “espantando” os pensamentos que não funcionam bem, aqueles que nos atrapalham e nos impedem de resolver nossas questões e alcançar nosso bem-estar.