A morte ainda é uma experiência dolorosa e estranha para a maioria de nós. Se tiver uma causa violenta, causa ainda mais dor. Mas a morte autoinfligida, seja de uma pessoa desconhecida, próxima ou muito querida, causa um impacto emocional ainda mais forte, que atinge um grande número de pessoas na comunidade, entre os amigos e dentro da família, acarretando sentimentos diversos, que se manifestam como sofrimento psicológico significativo que pode perdurar no tempo.
Na maioria dos casos, o suicídio é um ato de desespero de alguém que não aguenta mais sofrer, que perdeu a confiança em conseguir outra solução para seus problemas, e que busca o alívio da dor. Algumas organizações oferecem um espaço onde as pessoas com conflitos íntimos graves ou com ideação suicida podem compartilhar experiências e serem orientadas sobre como lidar com os próprios sentimentos. Como exemplo, temos o Centro de Valorização da Vida (CVV). Através da linha telefônica número 188, a instituição disponibiliza a escuta e a integração em grupos de apoio, para aquele que pede ajuda.
Quando a PREVENÇÃO falha, e o ato suicida acontece, as pessoas mais próximas, chamadas de sobreviventes enlutados, além da tristeza pela perda, enfrentam perplexidade e anseiam por explicações. São tomados pela autorrecriminação, culpam-se por não terem conseguido fazer algo para evitar o ato suicida. Quando a pessoa que morreu era muito próxima, os sentimentos de abandono e de mágoa podem surgir mesclados com a raiva.
O estigma associado ao suicídio, ainda presente em nossa sociedade, provoca a vergonha, o medo do julgamento, e induz ao isolamento social, o que agrava ainda mais o sofrimento. Essa avalanche de sentimentos dificulta a integração da experiência dolorosa à sua história, travando o movimento de seguir em frente em sua jornada pessoal. Lembrar-se dos momentos de convivência com aquele que se foi, traz a lembrança da dor, conduzindo o sobrevivente enlutado, em um mecanismo de defesa, à tentativa de distanciar-se do passado e da memória daquele que agora está ausente.
É comum que esses sobreviventes passem a temer que exista neles a tendência de tirarem a própria vida, repetindo o ato suicida. São frequentes os distúrbios de sono, a perda do apetite e a dificuldade de concentração, ou ainda, reações psicológicas mais severas: depressão, ansiedade e hipervigilância.
Eles precisam de tratamento. E a POSVENÇÃO é todo cuidado prestado aos sobreviventes enlutados, pessoas que foram impactadas por um suicídio. Através de estratégias de intervenção em uma abordagem interdisciplinar, com a atuação de profissionais de diversas áreas, engloba diversas ações com os objetivos de evitar as complicações do processo de luto e de promover a saúde mental. O apoio emocional pode reduzir o risco de suicídio entre os enlutados e fortalecer suas defesas psicológicas para que possam, um dia, recuperar um senso de normalidade e alcançar o bem-estar a despeito da dor que sofreram.
Deve receber a mesma atenção um sobrevivente especial: aquele que tentou tirar a própria vida e sobreviveu. Além dos problemas que o induziram ao ato suicida, que naturalmente ainda persistem, sentem vergonha e culpa por terem desestabilizado emocionalmente a família e as pessoas mais próximas.
Os profissionais especializados na área da Saúde dedicam-se à promoção da saúde mental, mas cada um de nós pode contribuir para mitigar a dor de alguém, oferecendo uma escuta empática ao percebermos o sofrimento ao nosso redor.