Ela chegou meio esbaforida em minha casa e me disse:
— Aconteceu uma coisa horrível comigo e quando eu lhe contar, você vai rir.
— Eu sou sua amiga! Jamais daria risada de algo ruim que acontecesse com você. — respondi de imediato.
Por muitos anos, ela tem sido uma das amigas mais queridas e eu não consegui me imaginar tendo uma reação que não fosse de solidariedade.
Mas ela insistiu:
— Vai rir, sim!
— O que foi?
Então ela contou.
Tinha ido na casa de sua mãe, que morava na área rural de uma cidade próxima, para pedir-lhe uma opinião sobre um assunto muito importante.
Ela casou-se pela segunda vez, e tendo apenas uma filha do primeiro casamento, pensou em ser mãe novamente. Ela e o marido tinham dúvidas sobre isso. Ela estava com quarenta e quatro anos, e ambos receavam alguma complicação de uma gestação nessa idade.
Confiando na experiência da mãe, ela a procurou para falar sobre sua intenção e saber o que ela achava. A velha senhora não respondeu logo. Ela parecia embaraçada. Após algum tempo, ela se manifestou:
— Minha filha, eu preciso lhe contar uma coisa — ela hesitou — você sabe que a gente aqui mora longe da cidade e que a gente não tem muito recurso pra ficar pra lá e pra cá.
— Mas mãe, o que é que isso tem a ver? — minha amiga a interrompeu, impaciente.
— Eu tive onze filhos, e seu pai ocupado, trabalhando na roça todo dia…
— Mãe…
— Pois é… a gente deixava nascer uns quatro ou cinco menino pra ir no cartório registrar eles todos, era uma viagem só…
— Não estou entendendo…
— A gente falava mais ou menos o dia que cada um nasceu, assim, de cabeça, e registrava.
— E daí?
— E daí que deu um erro no seu. Você não tem quarenta e quatro anos… — me desculpe, nunca te contei isso antes porque não precisou. — a mãe estava constrangida.
— O quê?! — minha amiga perguntou com assombro.
— Você tem quarenta e seis!
Tal como ela previra, eu tive um acesso incontrolável de riso.
Ela concluiu seu relato:
— Tá vendo? Não falei que você ia rir? Olhe, vou ficar com minha filha única, mesmo. O pior é que agora eu sou a mais velha da turma, não é mais você! — ela disse, rindo, encarando o caso como uma tragicomédia.
Por um bom tempo ficamos ali, compartilhando as emoções dessa notícia inesperada.