UNFORGETTABLE

Meu pai estava no hospital. Aos sessenta e nove anos, era muito independente e ativo, e o infarto havia sido uma surpresa para todos nós, embora já existissem alguns fatores de risco. Depois do susto inicial, o médico nos comunicou que o infarto tinha sido extenso e profundo, o que significava que o seu coração tinha sido bastante afetado. Só um cateterismo diria se era possível operá-lo.


Naquela época, esse exame não era realizado em nossa cidade. Teríamos que nos deslocar até a capital, a quinhentos quilômetros. O exame foi marcado para a semana seguinte e até a data, ele permaneceria internado. Iríamos de carro, já que meu pai tinha muito medo de viajar de avião, e o estresse aumentaria o risco de ocorrer um problema cardíaco durante a viagem.


Ele parecia bem. Minha mãe, meus irmãos e eu nos revezávamos em acompanhá-lo no hospital, e tivemos o ensejo de cuidar dele, uma homem sempre tão independente. Procurávamos agradá-lo e distraí-lo. Ele sempre foi apaixonado por aprender a falar Inglês e sempre que podia, estudava sozinho em casa, com auxílio de revistas e fitas-cassete. Pensando nisso, decidimos lhe fazer uma surpresa.


Minha irmã e eu havíamos conhecido um casal de missionários americanos que visitavam periodicamente o Brasil com um grupo de pessoas, trabalhando em missão em nosso país. Um ano antes, nós os ajudamos acompanhando-os em um passeio turístico na região. Naqueles dias, eles estavam em nossa cidade novamente e nós perguntamos se eles poderiam fazer uma visita ao meu pai, no hospital, e orarem por ele — em Inglês!


Eles concordaram. Nós nos reunimos em volta do leito, oito missionários e diversas pessoas da nossa família, e eles fizeram uma oração demorada, enquanto meu pai os ouvia atentamente. Na época, tínhamos pouca experiência com a língua estrangeira e pouco conseguimos captar. Ao encerrarem a prece, meu pai, com um sorriso de orelha a orelha, aquele sorriso que ele reservava para momentos muito, muito especiais, disse, com os olhos brilhando de orgulho:

— Entendi tudo!

Alguns dias depois, ele sofreu o segundo infarto e não resistiu. Em nós ficou a grata lembrança daquele momento, uma oportunidade ímpar de lhe proporcionar uma alegria, como sinal de nosso amor!

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