Essa história me foi contada por uma amiga muito próxima e relata uma experiência vivida por ela, quando morava no Rio de Janeiro. Mãe de quatro filhos, Selma trabalhava duro para criá-los e instruí-los, encaminhando-os para uma vida melhor. Gastava muito com transporte para conduzi-los diariamente às respectivas escolas. Se ao menos tivesse um carro, seria tudo mais fácil, ela pensava. Quanto mais refletia sobre o assunto, mais sentia que um carrinho, mesmo usado, seria uma solução boa para economizar tempo e diminuir seus gastos. Apertando daqui e dali, começou a poupar dinheiro e alguns anos depois, tinha o suficiente no banco para dar uma boa entrada em um veículo financiado, dividindo o restante em parcelas.
Selma não tinha muita confiança em emissão de cheques, cartões e outras facilidades da tecnologia. Ela acreditava em dinheiro vivo, em espécie, e naquele dia, tinha deixado tudo acertado na revendedora de veículos usados. Sacaria o valor depositado na poupança e pegaria na loja o seu tão sonhado carrinho. Só de pensar que voltaria para casa dirigindo, sentia vontade de pular de alegria.
Entrou no banco. Havia muitas pessoas naquele horário e a fila andava devagar.
— A senhora vai sacar todo o valor? – perguntou-lhe a funcionária do caixa quando chegou a sua vez.
— Vou sim! – respondeu com um grande sorriso – vou dar entrada no meu carro, já escolhi o que eu quero!
A atendente sorriu de volta com um olhar compreensivo e contou as cédulas, escolhendo as de maior valor. Selma as dividiu em dois maços, dobrou-as e as enfiou nos bolsos traseiros de sua calça jeans, cobrindo-os com a camisa solta que usava.
Saiu do banco antecipando a alegria de chegar em casa e surpreender as crianças. Após caminhar alguns metros, uma voz masculina soou atrás dela, bem próxima:
— Moça, sua bolsa caiu!
Selma ficou confusa por uns poucos segundos.
Bolsa? Eu não trouxe bolsa! No instante seguinte, ela compreendeu. Saía sempre sem bolsa, porque o bairro onde morava há alguns anos era considerado uma região onde a ocorrência de crimes era constante. A Prefeitura investia em repressão policial, mas não adiantava muito. Vou ser assaltada! Ela concluiu alarmada. O meu dinheirinho tão suado…
Selma se revoltou. Aquilo não era justo! E do pensamento à ação, ela não precisou de mais do que um nanossegundo. Virou-se para trás, encarou o seu adversário e o abraçou com força, com muita força. Selma era uma mulher alta, de compleição um tanto robusta e apertou o bandido com braços fortes como tenazes, enquanto gritava:
— Ladrão, ladrão! — ela bradou muitas vezes, enquanto o homem, surpreso, tentava se desvencilhar do seu abraço de urso, sem conseguir. Por longos minutos ela permaneceu agarrada a ele, apertando-o e gritando sem parar. Os gritos chamaram a atenção das pessoas, e um policial à paisana, que estava abastecendo seu carro no posto de gasolina em frente ao banco, convocou os colegas que faziam a ronda numa viatura, perto dali.
A polícia chegou, rendeu o ladrão e conduziu os dois para a delegacia mais próxima. Minha amiga, muito abalada, conseguiu dar seu depoimento e o assaltante ficou detido. Após se acalmar, ela voltou para casa com seu dinheirinho intacto dentro dos bolsos. Por dois meses, ela permaneceu sem voz, e precisou de sessões de psicoterapia para se recuperar do trauma e voltar a falar. À noite tinha pesadelos com o ladrão e durante o dia, temia que ele fosse solto e voltasse para se vingar. Muito tempo se passou. Ela acabou se mudando para um bairro mais tranquilo e finalmente comprou o carro tão desejado.

QUEM ASSUSTA QUEM
Eu tinha o hábito de passar por lá em quase todos os finais de semana. Ia àlocadora que ficava a