Três sinais de exclamação são insuficientes para descrever o grau de agitação emocional que nos domina quando estamos com raiva. É um turbilhão que nos impele, de forma quase irresistível, a reações como fazer ou dizer algo, a comportamentos impensados, que geram com frequência arrependimentos, remorsos e prejuízo nos relacionamentos. A raiva nos tira momentaneamente o controle de nossas próprias ações. Ela é sempre uma péssima conselheira porque nos tolda a capacidade de escolha e abala o equilíbrio das nossas relações interpessoais.
Muitas vezes, a raiva se origina de pensamentos como: “ele/ela não devia ter feito isso” ou “ele/ela tinha que ter feito aquilo”, ou surge como reação a eventos, animais ou objetos que de algum modo estão contrários à nossa vontade. Expressa o nosso vão desejo de que as pessoas e o mundo estejam sempre de acordo com o que pensamos e o que queremos.
Sabemos que não é assim. Grandes e pequenas contrariedades provavelmente nos atingirão no decorrer da nossa vida. A forma como as interpretamos determinará a intensidade de nossa perturbação. E essa perturbação também nos atinge no nível fisiológico, podendo causar palpitações cardíacas, hipertensão, tremores e aumento do cortisol na corrente sanguínea.
Uma “explosão de raiva” de alguém pode ser bastante desagradável e por esta razão às vezes é utilizada para controlar o comportamento do Outro, que por temer esse tipo de confronto, “faz qualquer negócio” para evitá-lo e assim se submete. Esse tipo de manipulação não favorece os nossos relacionamentos e não contribui para o nosso bem-estar.
Podemos nos esforçar para reprimir a raiva, ou podemos expressá-la livremente em nossas relações. Ela sempre acarretará algum tipo de consequência, no âmbito físico ou psicológico, ou ainda em nossas interações humanas. Por essa razão, o ideal para nós seria não chegar a senti-la. A verdade é que a raiva não resolve problemas, frequentemente ela os cria ou agrava os problemas que já existiam. Mas a raiva é uma emoção humana! O que fazer?
Em primeiro lugar, considerando que a raiva surge quando nos deparamos com um evento que nos desagrada ou com comportamentos de pessoas que agem de forma diferente da nossa, podemos nos lembrar de gerenciar nossas expectativas: o mundo não gira ao nosso redor, ao sabor da nossa vontade. Muitas pessoas pensam diferente de nós e nem sempre farão as coisas do nosso jeito. Nosso desejo de que sempre concordem conosco não mudará isso. Ponto.
Quando você sentir um impulso quase incontrolável para falar ou fazer algo, numa situação que lhe incomoda ou aborrece, desconfie. Fique alerta, você está sob o efeito de uma emoção. Deixar-se conduzir por ela não lhe trará bons resultados. Respire, adie a resposta, afaste-se e se acalme. Reconheça intimamente que está sentindo raiva no momento. A depender da situação, pode ser válido comunicar isso ao Outro. Será melhor conceder-se o tempo necessário para que a raiva diminua – ela sempre diminui – e em outro momento, tomar decisões que sejam guiadas pela razão.
Afinal, além de sermos seres humanos sujeitos a emoções, faz parte da nossa humanidade a capacidade de escolher nosso modo de agir no mundo.