Pensar antes de agir, esse sempre foi o conselho internalizado desde sempre em minha vida. Mas naquele dia, tive que fazer diferente.
Estava viajando com alguns amigos pela Chapada Diamantina, e entre as opções disponíveis no chamado turismo ecológico, estava a tirolesa. Eles não se interessaram e nos separamos. Enquanto eu entrava na fila, eles se espalharam pelo parque em busca de outras opções de diversão. Eu não sabia se teria realmente coragem para saltar, mas senti vontade de me desafiar. Do ponto onde eu estava, não dava para ver direito o local, e à medida em que a fila ia avançando, comecei a sentir as pontadas do medo me espetando. Eu alongava a vista enquanto me deslocava para frente, e conseguia divisar parte da extensão do percurso que terminava na água, à beira do barranco do outro lado. O tempo ia passando, agora havia somente três pessoas à minha frente. Depois duas. A essa altura, eu me sentia tão rígida quanto um robô. O medo se avolumava em mim, como um casaco de chumbo. Com apenas uma pessoa à minha frente, pude ver melhor o que estava acontecendo logo adiante e percebi que todos eles chegavam vivos à outra margem. Essa percepção não me ajudou. Se eu escapar dessa, não tornarei a outra, eu pensava, já arrependida. É muito estresse, pra que foi que inventei isso?
Chegou a minha vez. A hora da verdade. Eu poderia sair correndo. Ninguém iria me perseguir ou me forçar a pular. Como um autômato, permiti que o funcionário da tirolesa passasse pelo meu corpo aquelas tiras de segurança que envolvem pernas e braços, enquanto outra tira, com uma espécie de roldana, era enganchada em um cabo de aço acima da minha cabeça. Naquele cabo eu iria depositar a minha vida…arfff. O funcionário fez um movimento de cabeça indicando que eu estava pronta, podia ir. Como assim?! Como eu iria trocar aquela plataforma sólida onde meus pés pisavam, pelo nada absoluto abaixo de nós? Abandonar o chão firme, duro e conhecido, e me lançar ao vácuo sem retorno?
Eu disse com um fio de voz:
— Moço, estou com medo…
E ele, os olhos como punhais mirando diretamente os meus, respondeu firme, com a autoridade de quem já passou por aquilo muitas vezes:
— Não pense, pule!
Numa ínfima fração de segundos, espaço de tempo onde caberiam muitos pensamentos, mas muito menor do que eu levo para contar isso, eu compreendi que precisava seguir literalmente aquele conselho. Em um breve instante, entendi que de outro modo a experiência não seria possível. Se eu alimentasse naquele momento, um fiapo de pensamento que fosse, eu iria desistir. E eu fiz uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida.
Eu pulei.
Sem pensar.
Suspensa no ar e me deslocando rapidamente em direção ao outro lado, meu medo se esvaiu magicamente. Eu já tinha feito a parte mais difícil: confiar no desconhecido. Sentia agora que o cabo, numa descida muito veloz, sustentava o meu peso. Logo, os meus pés roçavam a água da outra margem e a euforia que me invadiu tornou a experiência inesquecível.
Nota da autora: Eu continuo preferindo pensar antes de agir nas diversas situações da vida, mas convenhamos, em alguns momentos, a coisa não se torna mais segura à custa de muito pensar. É um trabalho bem delicado escolher os riscos que se está disposto a correr. Cada experiência exige um grau maior ou menor de confiança. Portanto, avalie a situação, e se decidir enfrentar, se prepare e pule!