Sempre que ouvimos dizer que uma pessoa está deprimida, nós entendemos que ela está triste. Embora a tristeza esteja presente no quadro da depressão, não se confunde com esse transtorno psicológico, cuja prevalência tem aumentado no mundo inteiro. Estima-se que mais de trezentos milhões de pessoas em todo o mundo sofram desse transtorno de humor, atualmente a principal causa de incapacidade, chamado de depressão maior, unipolar, e que se diferencia de outros tipos de depressão. No Brasil, 5,8% da população sofre desse mal. O estigma social em relação aos transtornos mentais e a dificuldade de acesso ao tratamento na rede pública de saúde, torna a questão mais grave. Esse transtorno complexo, afeta mais mulheres que homens, e atinge vários sistemas, produzindo sintomas afetivos, físicos e cognitivos.
O diagnóstico da depressão, que deverá ser realizado preferencialmente por um médico psiquiatra, após ouvir a história de do paciente, suas queixas e sintomas, e o grau de repercussão do problema em sua vida diária, baseia-se na presença de três aspectos: tristeza, apatia e sensação de vazio, em grau significativo, por um certo período de tempo.
A tristeza é uma reação emocional natural de um ser humano a um acontecimento externo que origina sofrimento em maior ou menor grau. Após um período de tempo que varia para cada pessoa, a tristeza tende a ceder, dando lugar à aceitação da situação e à retomada da vida normal. Quando se passa mais de um ano, e a pessoa não melhora, convém investigar se há necessidade de tratamento específico. Nem sempre a depressão se origina exclusivamente a partir de um acontecimento externo. Muitas vezes ela se apresenta como consequência de um desequilíbrio na produção de neurotransmissores cerebrais, responsáveis pelo humor, tais como a serotonina e a dopamina. A interação entre esses fatores, desencadeando a reação do indivíduo a esses eventos vitais, pode ser influenciada por sua vulnerabilidade genética. Algumas pessoas são mais propensas que outras a desenvolver um quadro depressivo, independentemente das situações que precisa enfrentar.
A depressão pode se apresentar em graus, variando de leve a moderado ou grave, e em casos mais sérios, rouba do indivíduo o prazer de viver. Nos casos mais difíceis, o paciente se isola e renuncia às atividades cotidianas, deixando de comer, e até de cuidar de sua higiene pessoal, permanecendo num quarto, numa cama, sem energia para se movimentar no mundo. É imprescindível que a família, a sociedade e os órgãos públicos de saúde prestem atenção à população adoecida com esse tipo de transtorno, que quando piora sem controle, pode conduzir o paciente à ideação ou comportamento suicida.
O tratamento da depressão deve ser multidisciplinar: psicoterapia com reestruturação cognitiva e suporte medicamentoso, combinados, podem conseguir melhores resultados, sendo o resgate do prazer o seu principal objetivo.
O trabalho do psicoterapeuta consistirá em construir junto com o paciente, novas formas de interpretar o que lhe acontece, com a substituição dos pensamentos disfuncionais por avaliações mais realistas da situação, o treinamento de habilidades de enfrentamento, de interação no ambiente social, e o redimensionamento correto das ameaças e dificuldades que lhe impedem de ter uma vida plena. O acompanhamento na psicoterapia, destacando-se aqui a Terapia Cognitivo-Comportamental como uma das abordagens eficazes, permitirá ao paciente aprender a acessar e desenvolver os recursos internos dos quais dispõe para enfrentá-las, auxiliado por uma rede de apoio, composta dos familiares, dos amigos e dos profissionais de saúde que o acompanham.
O psiquiatra, conforme o caso, poderá receitar medicamentos antidepressivos, escolhendo entre os diversos tipos disponíveis no mercado, dos clássicos aos mais modernos, tais como os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, os ISRS, associados ou não a outras medicações, como ansiolíticos e outros, e fará o acompanhamento dos efeitos colaterais, geralmente temporários, até o alcance dos efeitos benéficos desejados, considerando que cada organismo reage de forma diferente às substâncias que atuam no sistema nervoso, e que pode haver necessidade de ajuste de dose, substituição, associação, acréscimo ou diminuição dos remédios.
É importante ressalvar que para obter êxito no tratamento, o paciente precisa se responsabilizar nesse processo. Mudanças no estilo de vida, incluindo aspectos como padrão regular de sono, alimentação de maior qualidade e exercícios físicos, são necessárias e úteis. Especialmente os aeróbicos, os exercícios aumentam a produção de serotonina e liberam endorfina, promovendo sensação de bem-estar, além de reduzirem o cortisol, neurotransmissor relacionado ao estresse. É muito importante que o paciente seja incentivado a se envolver em atividades que lhe davam prazer antes do seu adoecimento, mesmo que no momento tenha uma baixa expectativa de gratificação. Ao se esforçar para realizá-las, ele recuperará aos poucos o prazer que sentia antes, e isso lhe dará novo estímulo para buscar sua própria felicidade.
Quanto ao prognóstico do tratamento dessa doença, sabe-se que é um transtorno tratável na maioria dos casos, embora possa haver recidivas, e que algumas pessoas podem apresentar remissão completa do quadro, enquanto outras, mesmo melhorando, poderão ter necessidade de medicação de manutenção por um longo tempo, ou até por toda a vida.