A sensação de se expor publicamente ao ridículo é algo que não dá para esquecer. Naquele dia, uma amiga muito querida da nossa família iria voltar de um congresso em São Paulo. Era uma ocasião importante, sobretudo porque seria a primeira viagem de avião de sua vida. Decidimos, pois, comemorar a ocasião em grande estilo.
Éramos sete pessoas, três adultos e quatro adolescentes. Conseguimos algumas roupas e acessórios antigos, retirados de baús de guardados e cedidos de empréstimo por seus donos, pessoas idosas escolhidas dentre membros da família e amigos. Queríamos surpreendê-la com nossa homenagem inusitada, e assim nos vestimos e nos adornamos para recebê-la. Preparamos um cartaz engraçado de boas vindas e partimos.
O aeroporto onde ela iria desembarcar distava trinta quilômetros da nossa cidade, e viajamos em dois carros, empolgados com a surpresa que faríamos. Estávamos quase chegando ao nosso destino, quando, ainda na rodovia, o pneu de um dos carros furou. Paramos todos, saímos dos veículos e esperamos na beira da pista até resolvermos a questão. Enquanto aguardávamos a troca do pneu, percebemos que os carros que passavam diminuíam a marcha para olhar para nós, acenando e gritando diante daquela trupe esquisita. Um vestido de noiva tubinho que esteve na moda no século passado, trajes de estilo hippie, óculos vermelhos com design “gatinho”, colares vistosos e coloridos, chapéus espalhafatosos e sapatos idem, eram as peças que compunham o nosso vestuário, primorosamente descombinado e chamativo. Ríamos nervosamente por sermos o centro da atenção de quem passava.
Mas isso não foi nada diante do que nos esperava. Ao estacionar os carros próximos ao aeroporto, iríamos precisar andar dois quarteirões e seguir a pé. Sair do carro onde eu estava foi, para mim, uma verdadeira façanha. Eu não imaginava que fosse tão difícil enfrentar o ambiente urbano e ser vista, me expondo ao julgamento das pessoas que transitavam por ali, naquelas vestimentas bizarras e com o rosto à mostra. Por um momento, eu travei. Algumas pessoas do grupo sentiram algo semelhante, um pouco de vergonha, de timidez. Mas o que eu sentia naquele momento era pavor.
A despeito disso, estava claro para nós que não iríamos desistir depois de tantos preparativos. Assim, nos forçamos a desfilar pela rua e depois, pelo saguão do aeroporto, com o coração pulando no peito. Nós nos postamos no desembarque para aguardar nossa amiga, segurando o nosso cartaz. Os cochichos e risadas à nossa volta demonstravam o impacto que o nosso visual insólito causava naquele ambiente e a curiosidade que despertávamos.
Nossa amiga chegou afinal, e riu, riu muito do conjunto que formávamos. Nossa iniciativa foi, para ela, algo gratificante que traduziu o nosso carinho de uma forma inédita. Guardo a lembrança desse episódio, como um desafio singular, um ato de bravura que rendeu muitos comentários e revestiu de comicidade o nosso cotidiano.
Muitas vezes, nós nos esquivamos de fazer algo novo, diferente, mas a verdade é que essas iniciativas enriquecem a nossa vida e nos libertam em alguma medida. Quero lembrar aqui Luís Fernando Veríssimo:
“Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, completamente livre, é a que não tem medo do ridículo.”
Então…